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Perry Friedman faleceu aos 55 anos de idade

Faleceu no passado domingo, aos 55 anos de idade, Perry Friedman. Dono de uma bracelete, Friedman era querido por toda a comunidade, pela sua alegria nas mesas. A causa da morte foi um cancro do pâncreas.

Perry Friedman nasceu em New York, mas a carreira de jogador de poker levou-o a mudar-se para Las Vegas, onde residia actualmente.

Um habitué das World Series of Poker, Friedman conseguiu pelo menos um prémio em todas as edições das World Series of Poker entre 2002 e 2023. A sua bracelete foi conquistada em 2002, num evento de $1,500 Limit Omaha Hi-Lo,, e foi acompanhada do maior dos seus 50 prémios World Series. Com um total de $1,050,000 em prémios WSOP, Friedman recebeu $176,860 pela vitória de 2002.

Além de jogador onde ganhou fama por ser um dos membros dos Tiltboys, um grupo de amigos que no final dos anos 90 e inícios dos anos 2000, tinha por missão colocar os adversários em tilt nas mesas, Friedman foi também funcionário e accionista minoritário da Full Tilt Poker. Sala que ajudou a criar, já que era engenheiro informático de créditos firmados.

Vários nomes conhecidos do mundo do poker lamentaram o falecimento de Perry, sendo que o texto mais emocionante foi o partilhado por Allen Kessler, que partilhou uma mensagem do pai de Perry Friedman:

Tornou-se óbvio desde que aos 3 anos fazia puzzles de 1.000 peças, que o meu filho Perry era uma criança excepcionalmente dotada. Na escola primária, fez parte da primeira turma de Sobredotados na história do Distrito Escolar de Sachem.

Terminou o liceu com todos os prémios e louvores existentes. Como professor do liceu, estive presente em mais de 30 cerimónias de final de curso. Nunca ouvi tantos aplausos antes e depois do discurso a um orador de turma, como ao Perry. No seu último ano do liceu foi nomeado como o MELHOR em MATEMÁTICA e CIÊNCIA do Estado de New York e enviado para o Lawrence Livermore National Labs para trabalhar em supercomputadores.
Ele foi aceite em todas as universidades de topo a que concorreu (Harvard, Brown, MIT, Duke e Stanford).

Esteve 5 anos em Stanford, com bolsa de estudo, tendo tirado um Bacharelato e Mestrado.
Uma vez estava eu na Universidade de Colombia, quando um professor apresentou um problema que ninguém conseguia resolver. Liguei ao Perry e ele resolveu-o em 20 segundos. Um ano depois foi ele a pedir-me para resolver um problema. Nem eu, nem nenhum dos meus professores, conseguimos chegar à solução. Disse ao Perry que tinha mais sorte que ele. Se eu não conseguisse resolver um problema, só tinha de lhe pedir. Por outro lado ele não tinha ninguém que o ajudasse.

Aqueles que o conheciam, rapidamente percebiam que ele era a pessoa mais divertida, carinhosa, e amável.

Acabou por se tornar um empreendedor excepcional, um pai fantástico, e um marido leal e carinhoso. Eu conhecia todas essas suas facetas mais a de filho "perfeito".

Quando os meus amigos têm filhos, falo-lhes da maldição de ter filhos. Só deixas de te preocupar quando morres! Nunca ninguém disse que, algo muito pior, eles podem morrer antes de nós! Digo isto com as lágrimas a escorrerem pela cara.

Tristemente, o meu filho Perry, o filho do meio, o filho especial, aquele que nos inspirou a adquirir as matrículas PROUDDAD e PROUDMA (Pai Orgulhoso e Mãe Orgulhosa), faleceu ontem à noite de cancro do pâncreas.

Perry Friedman 15/05/68 - 21/01/24

 

 

Phil Hellmuth preferiu recordar uma história de Perry e os TiltBoys:

Notícia terrível! Gostei verdadeiramente de cada minuto que passei com o Perry Friedman, tanto nas mesas como fora delas. O Perry era um tipo fantástico, que estava sempre a sorrir, a brincar e infectava os outros com a sua gargalhada contagiante. Ele trazia coisas como "chapéus com luzes", Smokings, marionetes de meias para a mesa. Ele "libertava" a marionete enquanto estava a meio de uma mão contra ti!

Uma vez, por volta de 1999, o Perry e o seu adorável grupo, os Tiltboys (foto abaixo), decidiu organizar o Campeonato Mundial de Rochambeau (pedra, papel, tesoura). Tinha um buy-in de $500, e convidaram-me e ao Mike Matusow para jogar. Eu e o Mikey aceitamos de bom grado o convite. Concordamos em informar o Guinness Book of World Records dos resultados finais.

Pensava eu que não havia qualquer perícia no Rochambeau, e cheguei ao Final Four (de uns 16 participantes). Chegados a esta fase, os últimos 4, num desafio contra o Perry, ele atropelou-me enquanto comentava as minhas escolhas. "Phil, toda a gente escolhe Pedra ou Papel no primeiro round, depois..." Após o nosso duelo, passei a acreditar que havia perícia no Rochambeau, e mais tarde descobri que existem padrões utilizados de forma consistente pelos jogadores amadores (existe habilidade!).

O Perry parecia ter um jeito especial para jogar Stud high low split, e era sempre um duro adversário nas World Series of Poker.
Descansa em paz Perry, vamos ter saudades tuas.

 

 

Foi em Stanford que Perry conheceu e ficou amigo de Phil Gordon e Rafe Furst, que com outros amigos jogavam poker às quartas feiras, a Tiltboy Poker Night. Os 3 Tiltboys mais famosos conseguiram fazer do poker uma profissão, e era nas mesas que espalhavam a sua boa disposição. Em 2005, Phil Gordon e Kim Scheinberg, também ela membro dos TiltBoys, publicaram o livro Tales of The Tiltboys. Livro onde partilharam várias histórias do grupo.

Concluído o Mestrado e já a trabalhar na Oracle, Perry Friedman recebeu o convite para trabalhar numa empresa que estava a começar a dar os primeiros passos para criar uma sala de poker online: a Full Tilt Poker. Na verdade, Perry Friedman foi o primeiro funcionário contratado pela Tiltware LLC (empresa mãe da Full Filt). Empresa onde pouco depois também entraram os amigos, Gordon e Furst. Então, e como forma de ajudar a empresa a lançar a sala, os 3 adquiriram uma pequena fatia de acções, na que chegou a ser uma das maiores salas de poker online do mundo.

Apesar de os 3 terem sido uma voz contra os abusos e excessos financeiros na gestão da sala por parte de Ray Bitar, Howard Lederer e Chris Ferguson, Rafe Furst acabou por também ser processado pelo Departamento de Justiça, já que fazia parte da direcção da sala.

Nos anos mais recentes, e já a morar em Las Vegas, Perry tirou um segundo curso universitário na Universidade do Nevada, e posteriormente criou a Bolsa de Estudo  Perry Friedman Civil Liberties. Programa que atribui duas bolsas de estudo todos os anos.

Já nos seus tempos de estudante em Stanford, Perry Friedman lutou pelos direitos civis, tendo lutado contra um código de discurso imposto pela Universidade. Código que foi depois abolido em tribunal.

Lutei arduamente contra o código porque tenho um sentimento muito forte de protecção à Primeira Emenda (sobre a liberdade de opinião, entre outras liberdades). Isto é particularmente importante nos recintos universitários, onde a discussão de ideias é essencial para a liberdade académica.

Por causa da minha situação única, fiquei muito contente por poder dar algo à comunidade da UNLV (Universidade do Nevada, Las Vegas), e ao mesmo tempo encorajar e recompensar outros que querem dar algo à sociedade lutando pelas liberdades e direitos civis.

*foto Poker.org